O tema “transitividade verbal” configura-se como uma das grande pedra no sapato de muitas pessoas que precisam aprender este conteúdo gramatical corretamente, sejam alunos do ensino fundamental e médio ou quem está estudando para concursos, para citar casos mais agudos. É importante dizer que a necessidade de compreensão dos conceitos que serão aqui apresentados é relativa. Obviamente, algumas pessoas (como os grupos citados na frase anterior) encontrarão utilidade prática e imediata para as explicações deste texto, enquanto para outras pessoas o que será dito aqui proporcionará uma melhor compreensão da língua, o que é genericamente sempre muito bom.
De fato, o tema já se tornou uma espécie de símbolo de “não saber direito o português”. Não raramente, ouvimos frases como “Não lembro nada de português da época do colégio! Não entendia nada daquela história de transitividade verbal, acentuação, etc”, em que algumas nomenclaturas são usadas para exemplificar algo que com certeza já ouvimos várias vezes em nossas vidas, mas que ainda não sabemos exatamente o que significa.
A verdade é que o tema (assim como muitos outros) não deveria ser encarado como um obstáculo intransponível pelas vias lógicas e que só poderá ser vencido através da penosa estrada da memorização (decoreba).
A primeira parte deste texto explicará um pouco sobre o que é a transitividade em linhas gerais. Se você já compreende bem o conceito teoricamente mas ainda se atrapalha no momento de ir para a prática, vá direto para a parte final, que apresentará algumas dicas e soluções para os problemas mais frequentes.
Para início de conversa…
Do ponto de vista teórico, trata-se de um conceito relativamente simples. Alguns verbos exigem um complemento e outros que não podem receber complemento. Simples assim. A transitividade verbal trata, portanto, de separar verbos transitivos (aqueles que exigem complemento) dos verbos intransitivos (aqueles que não podem receber complemento).
Do ponto de vista do significado, em geral, verbos transitivos são aqueles que designam ações provenientes de um ou mais indivíduos (sujeito) que, de certo modo, afetam ou envolvem uma outra entidade (objeto) . Por outro lado, os verbos intransitivos são aqueles que designam ações de um ou mais indivíduos que não afetam outras entidades.
– Maria viu os rapazes.
Neste caso, o verbo “ver” é transitivo uma vez que envolve uma outra entidade, no caso, “os rapazes”.
– Carlos cresceu forte.
Neste caso, o verbo “crescer” é intransitivo, pois “forte” é uma característica, e não é uma outra entidade envolvida na ação.
Os verbos transitivos são divididos em duas categorias que não têm muito a ver com o significado: verbos transitivos diretos e indiretos. A diferença entre eles é pequena, mas importante: os verbos transitivos diretos ligam-se diretamente ao objeto enquanto os verbos intransitivos são ligados ao objeto por meio de uma preposição:
– Maria viu os rapazes.
Neste exemplo, o verbo “ver” é transitivo direto, pois não está ligado ao objeto por meio de uma preposição. O artigo “os” presente na frase, poderia ser eliminado, gerando, no entanto, uma sutil mudança de significado na frase.
– Maria telefonou ao reitor.
Neste exemplo, o verbo “telefonar” é transitivo indireto, pois está ligado ao objeto por meio da preposição “a” (que, no caso, está associada ao artigo “o”). A eliminação da preposição geraria a perda de sentido da frase que se tornaria agramatical.
De fato, o número de verbos intransitivos é muito menor e podem ser englobados em algumas categorias:
– verbos que indicam movimento e que possuem um par de significados contrários: ir e vir, subir e descer, entrar e sair, partir e voltar/retornar/chegar.
– verbos que indicam mudança de estado: nascer, crescer, envelhecer, morrer, emagrecer, engordar.
– verbos de ligação: ser, estar, permanecer, continuar, parar.
Onde mora o problema…
Ainda que seja possível traçar diferenças de significado entre verbos transitivos e intransitivos, muitas vezes esta diferença entre eles não é clara. De fato, tentar descobrir se um verbo é transitivo ou intransitivo levando em consideração o significado pode ser bastante perigoso.
Em alguns casos, há a possibilidade de que o mesmo verbo possa ser transitivo ou intransitivo dependendo do contexto e do significado que poderá assumir.
Ela viveu em Belo Horizonte. Neste caso, “viver” é intransitivo.
Ela viveu uma grande aventura. Neste caso, “viver” é transitivo
Outro problema frequente é que muitas vezes verbos intransitivos também recebem complementos de outra ordem que muitas vezes se confundem com objetos indiretos por serem iniciados com preposições.
Maria foi ao parque.
Maria telefonou ao reitor.
Muitos alunos ficariam confusos ao ter que explicar por que “ao parque” não é um objeto e “ao reitor” é.
Algumas táticas para definir se um verbo é transitivo ou não também não são muito seguras. A mais famosa delas é a emblemática frase “quem (verbo transitivo qualquer conjugado na terceira pessoa do singular), (verbo transitivo qualquer conjugado na terceira pessoa do singular) alguma coisa”:
“quem come, come alguma coisa”, “quem faz, faz alguma coisa”, “quem vê, vê alguma coisa”
Está frase funciona relativamente bem com verbos transitivos diretos, mas se mostra ineficaz com verbos transitivos intransitivos:
“quem telefona, telefona alguma coisa”(?)
Há ainda o caso de verbos que possuem dois objetos, um direto e outro indireto. O uso deste método deixaria
Algumas soluções
Quando chega o momento de ensinar transitividade verbal aos alunos do curso de língua portuguesa da Ateneo Idiomas, geralmente ensinamos dois métodos para saber se o verbo é transitivo ou não. Como será demonstrado a seguir, ambos os métodos fazem uso da percepção do aluno sobre o que é uma frase que faz sentido e o que é uma frase que não faz sentido para que fique claro se o verbo é transitivo ou intransitivo.
O primeiro deles é o teste da voz passiva. Em geral frases com verbos transitivos podem ser passadas à voz passiva enquanto frases com verbos intransitivos não podem ser passadas à voz passiva. Os exemplos deixarão tudo muito mais claro. Tomemos duas frases já usadas aqui neste texto para análise:
Ela viveu uma grande aventura.
Forma passiva: uma grande aventura foi vivida por ela.
Percebe-se que a frase não fica sem sentido. Desta forma, neste caso, “viver” é transitivo.
Ela viveu em 1723. Neste caso, “viver” é intransitivo
Tentativa de forma passiva: em 1723 foi vivida por ela*.
Percebe-se que a frase perde o sentido e torna-se incompreensível. Desta forma, neste caso, “viver” é intransitivo
Via de regra, portanto, verbos transitivos podem ser passados á forma passiva enquanto verbos intransitivos não podem. O próprio conceito de voz passiva já nos indica essa possibilidade. Trata-se de uma frase em que um objeto foi trazido à função de sujeito. Se não há objeto (característica principal de um verbo intransitivo), não há a possibilidade da transformação de uma frase em voz passiva.
Outra possibilidade é o uso de verbos reflexivos. Mais uma vez, verbos transitivos geralmente podem assumir forma reflexiva, enquanto verbos intransitivos não podem:
Ele viu a garota.
Ele se viu no espelho.
O verbo ver é transitivo.
Vale lembrar que, em alguns casos, o resultado dessa transformação pode criar imagens bizarras, o que não significa que haja perda de sentido.
Verbos intransitivos, por outro lado, não possuem forma reflexiva:
Ele viveu em Belo Horizonte.
Ele se viveu em Belo Horizonte*.
A segunda frase não faz qualquer sentido (além de não funcionar gramaticalmente) e, portanto, trata-se de um verbo intransitivo.
Saiba Mais
Por Lucas Goulart – Sócio Fundador da Ateneo Idiomas
Professor de Português na Ateneo Idiomas
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Professor, boa noite! Essas dicas são para verificar se o verbo é transitivo direto com o verbo intransitivo? Pois ao tentar transformar verbo transitivos indireto para voz passiva percebi que não ficou muito agradável, obrigado e um ótimo final de semana!